quarta-feira, 9 de março de 2011

Ivan Lendl x Jaime Oncins

Como não teve jogo hoje, resolvi contar uma partida marcante de minha carreira. O ano era 1992, local, Paris.
Acabava de ganhar um ATP em Bologna, Itália, justo na semana anterior a Paris. Vinha de vitória sobre Andrés Gomez na semi final, cheguei cheio de confiança . Primeira rodada um jogo duríssimo com vitória no quinto set sobre um tenista alemão Karbacher. Segunda rodada iria jogar contra um dos maiores tenistas que já vi jogando, Ivan Lendl. Sempre foi um tenista que eu admirava muito, tive a oportunidade de vê-lo jogar varias vezes e era difícil de imaginar que um dia ele estaria do outro lado da rede, em um dos lugares que sempre sonhei em jogar, Roland Garros. O jogo estava marcado para quadra dois, uma das mais gostosas de se jogar. Em minhas palestras que tive oportunidade de fazer até hoje, sempre gostei de citar este jogo. Passei, e tive que lidar com diferentes situações dentro de uma mesma partida. A primeira delas logo no início do terceiro set, vinha perdendo por dois sets a zero mas estava jogando bem. O jogo foi paralisado pela chuva, fomos ao vestiário e nos sentamos relativamente perto um do outro. Também estava Cassio Motta e meu treinador Paulo Cleto. Eles se conheciam bem e Lendl não parava de falar tirando sarro com Cassio e Paulo, mas nada relacionado ao jogo. Eu quieto no meu canto. Primeiro que eu não o conhecia e depois queria ficar focado na partida, me sentia bem no jogo apesar do resultado. Voltamos a quadra e venci o terceiro e quarto set. No quinto set já com uma quebra de vantagem Lendl sacou para ganhar o jogo 5/4. Ele sacando 30/40 começa a chover,  jogamos o ponto assim mesmo e termino com um smash quase não enxergando nada, pois havia caído um pingo em meu olho bem na hora do golpe. Quebro o serviço e o jogo fica empatado 5/5 no quinto set, eu sacando. Segunda paralisação só que agora uma situação totalmente diferente, inclusive no vestiário. Lendl já não falava com ninguém, cara fechada. Lembro que falei para Paulo... e agora ele não vai ficar falando ?  Recebemos a notícia que o jogo iria ser adiado, já estava escuro e em Paris não se joga com luz artificial. Agora vem a pior parte. Imaginem a seguinte situação, eu jogando não pensava mais  em quem estava do outro lado da quadra , já tinha entrado no clima do jogo e esquecido completamente contra quem estava jogando. Quando parou o jogo e não voltamos tive a noite inteira para pensar. Agora eu estava muito próximo de vencer um grande ídolo a quem eu sempre assistia pela televisão. Comecei a pensar em todas as situações, devo ter jogado uns dez match points na cama. Ficava pensando o que fazer se tivesse um match point, e se não tivesse? E se entrasse perdesse meu saque logo de cara?  Varias perguntas e duvidas em minha cabeça. Resumindo dormi uns quarenta minutos esta noite , minha cabeça não parava de trabalhar. Fui para quadra aquecer e bati quase um hora, tinha que entrar muito aquecido, tinha poucos games para jogar e eram decisivos. Devo ter salvo uns dez break points e tido mais umas tantas vantagens para fechar o saque. Depois de um pouco mais de dez minutos consegui confirmar o meu saque e ficar com a vantagem de 6/5 no quinto set. Lendl ainda confirmou seu serviço e quando tive meu primeiro match point fiz a jogada inteira em minha cabeça. Iria dar uma curtinha na primeira oportunidade e foi assim que acabou o jogo. Lendl chegou na curta mas terminei com um a passada na paralela. Esse sem duvida foi um dos jogos mais emocionantes de minha carreira.   

                   segue video postado no youtube 

        http://www.youtube.com/watch?v=frvnTIcX3iI

terça-feira, 8 de março de 2011

Futures e Challengers, diferentes tipos de jogadores

Vamos falar um pouco sobre os tenistas que jogam Futures e Challengers. Hoje estávamos em um bate papo descontraído, eu e Gastão e ficamos observando o torneio e seus participantes. Podemos falar que hoje em dia é bem claro a diferença entre torneios disputados na América do Sul, nos Estados Unidos e os da Europa. Na América Do Sul grande parte dos torneios é disputado em quadra de saibro aonde os americanos passam bem longe, sempre com brasileiros, argentinos, colombianos , chilenos e alguns europeus perdidos, geralmente espanhóis, americanos nem pensar. Nos Estados Unidos quase todos disputados em pisos duros,  muitos americanos, alguns ainda universitarios, australianos, alguns europeus e quase nenhum sul americano. Na Europa é onde se encontra uma mescla maior de jogadores. Na temporada de saibro junto com os europeus, muitos sul americanos. Na temporada de quadras duras voltam os australianos ,ingleses etc...Posso afirmar com uma certa segurança que fica bem claro a preferência dos jogadores. Saibro para sul americanos, piso rápido para os países que tem como idioma nativo o inglês, Estados Unidos, Austrália e Inglaterra. Os Europeus podem se adaptar mais facilmente aos dois pisos, talvez pelo seu clima, que os obriga no inverno a jogar em quadra coberta e com piso rápido, e no verão saibro, com isso aprenderam a jogar bem nos diferentes tipos de pisos. Mauricio e  Pietro Jordão, dois brasileiros que estão indo para universidades no final do ano, me perguntaram quais os torneios  que eu achava mais duro de se jogar, os futures do Brasil ou os  Americanos. Difícil de responder, acho os dois bem equilibrados, aqui tem jogadores que no piso rápido  se tornam perigosos e no saibro não fariam grande coisa, no Brasil temos jogadores que são melhores no saibro e que se jogassem na dura com esses ¨gringos¨ poderiam se complicar. Eu diria que levando isso em consideração os dois são bem equilibrados. Não vale dizer que fiquei em cima do muro. 
Um exemplo claro do que escrevi agora, foi o jogo de Gastão hoje. Contra um tenista de Zimbábue, típico jogador de quadra dura, batidas retas e irregulares , que se fosse em quadra de saibro não machucaria em nada. Gastão se complicou um pouco no inicio , um pouco mais por escolher jogadas erradas do que méritos do adversário. Talvez sentindo um pouco a falta de ritmo de jogo. Depois que se encontrou na partida controlou melhor os pontos e decidiu com uma certa facilidade o segundo set. Agora pega outro jogador que pode incomodar na quadra dura, mas com um pouco mais de ritmo e já passando pela estreia, que sempre é um jogo chato, tem tudo para se sair melhor.      

domingo, 6 de março de 2011

Dificuldades de treino e susto em Mcallen

Hoje, domingo, seria último dia do qualy, mas com a tempestade que nos pegou de surpresa, os jogos ontem tiveram um atraso de mais de três horas, com isso muitas rodadas adiadas e o qualy só terminará amanha. As dificuldades encontradas para treinar foram grandes. Ontem tivemos que ir a um parque público onde as quadras não eram das melhores. O incrível é que com uma população em torno de 150 mil habitantes, existem quadras publicas por aqui. Fica uma pontinha de inveja. 
Susto. Estávamos treinando ontem neste parque quando fomos surpreendidos por um vento forte acompanhado de nuvens negras, em questão de segundos uma chuva forte fez com que saíssemos correndo para o carro. Estávamos no meio de um furacão. Hoje assistindo ao noticiário pela manha vimos que Louisiana que não fica tão longe de onde estamos foi atingida por vários tornados e  alguns lugares ficaram bem destruídos. Um pouco de emoção nessa semana. 
Hoje tivemos que sair cedo para treinar , o único horário possível é entre sete e nove da manha, depois os jogos começam e eles estão usando todas as quadras. Horário complicado ,pois o frio que faz a essa hora é de desanimar. Saímos as seis e meia da manha para uma sessão de treino. Nada agradável, mas necessário para termos sucesso esta semana.         


                                                      Tempestade em Mcallen



A caminho do treino



A caminho do treino parte II

sexta-feira, 4 de março de 2011

Mcallen Tx ou Mexico ?

Chegamos a Mcallen, cidade muito próxima da fronteira com México. Fomos várias vezes alertados por Consuelo e Cristina, duas pessoas que trabalhavam na casa da família Mankoff, nossos anfitriões da semana passada, para tomar muito cuidado, pois se trata de uma cidade muito perigosa. Consuelo uma senhora mexicana de 72 anos que quando soube que iríamos a Mcallen arregalou os olhos e nos recomendou não sair de bobeira a noite. Chegamos preocupados, notamos que a última coisa que tem aqui é americano. Quase toda mão de obra mais barata é feita por mexicanos. Recepção , motorista de táxi, pessoal que trabalha no shopping, aeroporto e clube, só falamos espanhol. Ainda não soltei meu inglês por aqui. Mauricio que está contente, andava um pouco travado ultimamente com seu inglês, apesar de eu achar que fala bem, o garoto só precisa se soltar mais. Quero ver ele no primeiro ano na universidade vai ter que se soltar na marra. 
Não posso deixar de contar que Mauricio esqueceu seu computador na casa dos Mankoff, mas para sua alegria já está a caminho de nosso hotel via UPS. Fomos almoçar no shopping que fica localizado em frente ao hotel e depois fomos treinar. Clube a principio parece ser bom, e uma coisa  já percebemos, o vento será um grande adversário esta semana. Muito forte e troca de direção a todo momento. Ruim para todos, temos que aproveita-lo da melhor maneira. Vou postar dois vídeos de nosso primeiro dia, um do almoço e outro mostrando nosso quarto. Amanha começa o qualy, Mauricio mostrou muita empolgação no treino da tarde , afinal amanha será dia de jogo. Gastão só segunda ou terça, para treinar será difícil, não tem quadra, eles utilizarão quase todas, deixando apenas uma, que servirá para os jogadores do qualy aquecerem. Vamos ter que nos virar para encontrar um lugar para treinar. Coisas de Future.  







A caminho de Mcallen

Hoje não tenho muito o que escrever, estamos já nos preparando para a próxima cidade ,Mcallen Tx. Passamos por cinco longos dias de treino. Situação que nenhum jogador gosta. Após perder no qualy, aproveitamos para aprimorar alguns detalhes do jogo. Agora já estamos chegando perto do próximo jogo que será segunda feira. Chegou o momento de se jogar mais sets. A partir de hoje já mudamos um pouco o ritmo de treino, mais sets mesclado com exercícios específicos. Neste momento é hora de alimentar a confiança do jogador e não ficar inventando muito. Gastão pode treinar bem a parte de quadra e físico também. Hoje temos o voo para Mcallen as 13:30hs, para quem acha que não fazemos nada até a hora de embarcar, já treinamos uma hora e meia cedo e quando chegarmos a nova cidade treinaremos um pouco mais. Na próxima semana será um Future de 15 mil dólares de premiação. Engana-se quem achar que é um torneio fraco por ser menor, sempre existem jogadores perigosos nesses eventos, loucos por um lugar entre os melhores. Nos preparamos bem, agora é hora de afinar os últimos acordes e que venha Mcallen.   

quarta-feira, 2 de março de 2011

Lucky loser, que martírio .

Como havia dito tivemos três longos dias. Tudo começou na segunda feira com a espera de todos os jogos e terminou hoje com o fim das primeiras rodadas. Gastão era o segundo a entrar, se todos os jogadores que não estavam em condições de jogo não jogassem ,a essa hora Gastão estaria enfrentando Bogolomov Jr.
Mas como nem tudo acontece como tem que ser... explico. Na segunda feira um americano que já esqueci do nome, entrou na quadra para jogar e estava lesionado , todos já sabiam, entrou jogou cinco games e retirou-se. Primeira oportunidade perdida. Ontem quando estávamos indo embora do clube o arbitro nos avisa que um tenista americano havia se retirado e Gastão seria o próximo a entrar, sabíamos que Tomic estava lesionado e que suas chances de jogar seriam mínimas. Havia uma luz no fim do túnel. Chegamos ao clube cedo e a partida do australiano estava programada para as cinco da tarde. Fizemos todo o preparativo imaginando que haveria uma grande chance de jogar. Quando deu quatro horas da tarde chega Tomic e diz a Gastão que iria jogar. Paciência tínhamos um pouco de esperança mas não tínhamos o que fazer. Tomic entra em quadra e depois de caminhar durante sete games retira-se. Como falei a Gastão, na próxima vez ganhe seu jogo e não temos que depender de ninguém, fica um gostinho amargo mas não há o que fazer.
Conversando um pouco com o pessoal daqui do clube , fiquei comparando algumas situações com o Brasil. Começando pelo torneio. As pessoas que trabalham são todas voluntárias, geralmente sócios do clube que fazem de tudo para ajudar o torneio, desde os motoristas que levam os jogadores para o hotel aos pegadores de bola. Alias sabem quem são os pegadores? Pais de atletas e sócios do clube, senhoras com suas jóias ,maquiadas com cabelo em dia unhas pintadas, e não fazem a menor cerimonia em ajudar. Pelo contrario sentem orgulho de fazer. Senhores com seus relógios caros e anéis brilhantes que também tem seus filhos fazendo parte do treinamento ,e quando estes estão na escola são seus pais que ajudam nos jogos. estou colocando fotos para não acharem que estou inventando. Conversando um pouco com uma treinadora do clube , comento que me impressionou a quantidade de gente jogando tênis, ela me fala que realmente tem um número legal, e que inclusive esta é apenas uma das três sedes que eles tem, pois nesta não tem quadra suficiente para o treinamento. Sabe de quantas quadras estamos falando? Trinta, entre cobertas e descobertas, isso é um número pequeno pra eles. Que inveja que fiquei. Agora já vamos começar a focar para o próximo evento que será um future aqui no Texas mesmo. Estamos indo para cidade na sexta feira,onde tenho certeza que melhores resultados virão



                                                         pegadores voluntários

terça-feira, 1 de março de 2011

Um dia de espera

Estou escrevendo da sala de jogadores, ontem foi um dia de espera. Gastão é o segundo jogador a entrar na chave, caso alguem desista por alguma razão. Neste caso temos que ficar o dia inteiro até o último jogo entrar na quadra. Umas das piores situações que o tenista pode passar, pois ninguem tem a certeza do que pode acontecer. Vou dar um exemplo que aconteceu na semana passada em Delrey Beach. Robert Farah um tenista colombiano perdeu na primeira rodada do qualy. Na quarta feira ainda haviam jogos válidos pela primeira rodada da chave, ninguem assinou a lista de lucky loser, numa situação normal ele nunca entraria na chave, mas como ele foi o unico a assinar a lista e houve uma desistencia, ele entrou. Então sempre é importante ficar até que não exista mais jogos de primeira rodada. Ontem ficamos, e nesta situação temos que nos adaptar ao treino, fica sempre a duvida se treinamos com força total ou maneiramos um pouco para não ter tanto desgaste. Lógico que ao chegar ao final do dia sabíamos que não haveria chance , sendo assim pudemos treinar um pouco mais. Como ficamos o dia todo aproveitei para assistir alguns jogos e ver algumas figuras, por sinal cada uma. Vamos comecar por um Australiano que parecia aqueles lutadores do video game street fighter. O cara e loiro, tem cabelo de moicano e na parte mais alta do cabelo pintado de branco. Completamente doido, no primeiro game do jogo ja havia atirado a raquete longe. Um olhar que parecia que tinham tirado ele da jaula minutos antes de entrar na quadra. O outro um Jamaicano, Dustin Brown, com seu cabelo rastafari e um estilo de jogo único. Pode acontecer qualquer coisa, bolas maravilhosas e erros ridiculos, como diria meu amigo Casiano Costa, Brown tem uma direita religiosa( seja o que  Deus quiser) . Vou tentar colocar uma foto dos dois tenistas. Fui conferir Domijan para ver se ele consegueria manter o mesmo nivel de quando jogou com Gastao. Nao foi nem sombra do jogador que assisti dois dias atras. Creio que ele tem este perfil mesmo, um jogador perigoso, que quando estiver em um dia inspirado pode fazer chover, mas quando estiver em seus dias normais....Hoje sera mais um dia de espera, uma licao que Gastao pode tirar desta situacao, na proxima vez, ganhe o jogo.   
Nao se assustem com os erros ortográficos, tive que terminar usando o computador do Gastao e ele esta configurado em inglês... Sorry     



 Samuel Groth


Dustin Brown